1970-1979 - Violência, desespero, fim do mundo! Após décadas sendo considerado uma diversão menor, o horror ganhou respeitabilidade após o sucesso de O Bebê de Rosemary, e finalmente os grandes estúdios passaram a apostar neste filão, colocando astros famosos em filmes do gênero. A obra-prima de Polanski influenciou também a abordagem do pavor nos anos 70, com o clima pesado e sério da década refletindo nos filmes - quase sempre envolvendo rituais satânicos. Alan Alda e Jacqueline Bisset estrelaram Balada para Satã (The Mephisto Waltz, 71), contando a história de um pianista reencarnado através de um pacto com o diabo. O clima sufocante e apocalíptico de A Sentinela dos Malditos (The Sentinel, 76) reuniu astros como Cristina Raines, Chris Sarandon, Ava Gardner, Martin Balsam, John Carradine e Burgess Meredith para revelar a existência de um portal guardado contra o demônio por uma seita secreta, desde os primórdios da criação. De meter medo também é o sinistro A Casa de Noite Eterna (The Legend of Hell House, 73), com Roddy McDowall, e a trilogia A Profecia (The Omen, 76), que em seu primeiro filme tinha Gregory Peck e Lee Remick adotando acidentalmente o anti-cristo. O grande evento de horror da década - e também o filme do gênero mais lucrativo da história - foi o O Exorcista (The Exorcist, 73) ( Fig.77 ) , dirigido por William Friedkin com roteiro de William Peter Blatty adaptando seu próprio romance. O elenco juntava nomes de respeito como Ellen Burstyn, Max von Sydow, Lee J. Cobb e a menina Linda Blair, como a pequena vítima de possessão demoníaca, protagonista de cenas chocantes como o vômito na cara do padre e a masturbação com o crucifixo. Além de tirar o sono de muita gente, O Exorcista tornou-se um dos pouquíssimos filmes de horror a receber uma indicação ao Oscar na principal categoria. Seu sucesso estrondoso gerou sequências e uma onda de imitações mundo afora, incluindo Exorcismo Negro (1974) ( Fig.78 ) , o exemplar brasileiro realizado por José Mojica Marins. Cineastas franceses, espanhóis e principalmente italianos conquistaram seu espaço com diversos filmes sobre zumbis e canibalismo "autêntico" - derivados do pioneiro A Noite dos Mortos Vivos - ao mesmo tempo que o mestre Romero encerrava sua trilogia com Zombie , Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 79) ( Fig.79 ) e O Dia dos Mortos (Day of the Dead, 85) ( Fig.80 ) . Foi época também dos absurdos snuff-movies - filmes nos quais hipoteticamente as vítimas (geralmente mulheres indefesas, amarradas e amordaçadas) eram realmente assassinadas com requintes de crueldade diante das câmeras. Após um período de notoriedade e polêmica, estes filmes desapareceram e nunca chegou-se a averiguar sua autenticidade. Depois de uma breve experiência como roteirista de westerns, o cineasta italiano Dario Argento apresentou seu estilo slasher estreando em O Pássaro de Plumas de Cristal (L'Uccello dalle Piume di Cristallo, 70), mesclando ensinamentos de Hitchcock, William Castle e Mario Bava. Reduzindo ao mínimo a trama para privilegiar o visual - principalmente as cenas de assassinato - Argento fez o sangue jorrar com obras perturbadoras como Prelúdio para Matar (Profondo Rosso, 75) e o estiloso Suspiria (76), até hoje a obra que melhor define sua abordagem doentia do horror. Na Inglaterra, a Hammer insistia em retratar o horror de maneira clássica, dando sequência à saga dos vampiros com A Condessa Drácula (Countess Dracula, 71), sobre a nobre húngara Elizabeth Bathory, que no século XV banhava-se em sangue de virgens para restaurar a juventude. Mas o refinado humor negro britânico também marcou época em momentos memoráveis de Vincent Price como o sarcástico cientista louco O Abominável Dr. Phibes (The Abominable Dr. Phibes, 71) ( Fig.81 ) e na sequência A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes (Dr. Phibes Rises Again!, 72) ( Fig.82 ) , numa variação sobre O Fantasma da Ópera. Price esteve ainda mais imponente no shakespeareano As Sete Máscaras da Morte (Theatre of Blood, 73), interpretando um frustrado ator de teatro que imita os assassinatos das peças de William Shakespeare para eliminar cada um de seus críticos. A maior contribuição da década foi o surgimento de grandes cineastas que construíram cult movies subversivos de baixo orçamento, como Tobe Hooper e seu caótico O Massacre da Serra Elétrica (1974), apresentando o sanguinário Leatherface e toda a família estuprando, mutilando e matando um grupo de jovens indefesos. O filme situava o terror num ambiente rural conseguindo um resultado ainda mais apavorante, repetido em Eaten Alive (1976), a próxima experiência do Hooper no gênero. Na mesma época Wes Craven realizava Aniversário Macabro (Last House on the Left, 72), extremamente cruel e pessimista, também envolvendo carnificina à base de moto-serras. A seguir o diretor lançou Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 77), outra obra marginal de baixo orçamento e muito sangue. O canadense David Cronenberg estampava sua fascinação por mutações genéticas em filmes como Calafrios (Shivers, 75), Enraivecida - Na Fúria do Sexo (Rabid, 77) e Os Filhos do Medo (The Brood, 79), que preparavam seu caminho até a consagração com o remake de A Mosca (The Fly), em 1986.